sexta-feira, 9 de agosto de 2013

isto lembra-me dele

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega 
para afastar o frio de quatro paredes. 
Gastámos tudo menos o silêncio. 
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, 
gastámos as mãos à força de as apertarmos, 
gastámos o relógio e as pedras das esquinas 
em esperas inúteis. 

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. 
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; 
era como se todas as coisas fossem minhas: 
quanto mais te dava mais tinha para te dar. 

(...)


Já gastámos as palavras. 
Quando agora digo: meu amor, 
já se não passa absolutamente nada. 
E no entanto, antes das palavras gastas, 
tenho a certeza 
que todas as coisas estremeciam 
só de murmurar o teu nome 
no silêncio do meu coração. 

Não temos já nada para dar. 
Dentro de ti 
não há nada que me peça água. 
O passado é inútil como um trapo. 
E já te disse: as palavras estão gastas. 

Adeus.

Eugénio de Andrade

Quando li isto pela primeira vez lembrei-me do T.
Tem tanto a ver a connosco.

10 comentários:

Marisa Costa disse...

Sempre que precisares :)
Obrigada eu ^^

Marisa Costa disse...

Que lindo :o

Blackbird disse...

Eu enviei esse poema ao meu ex-namorado na altura em que acabamos. Na altura fazia mesmo sentido :)

Cátiia Bandeira disse...

Adoro *.*

R. Vieira disse...

gosto muito deste autor!

O poema é belíssimo!!!

Bolacha de Chocolate disse...

gosto!

Ki disse...

R: E eu acho que vou ser feliz com ele... se me apaixonar por ele!

samedi disse...

eu é que te agradeço pelas tuas palavras tão doces :)
sim, tudo há-de-se recompor, basta acreditares.
Beijinho

Francisca disse...

é ... porque as palavras também se gastam :S

teardrop disse...

Um dos meus poemas preferidos de Eugénio de Andrade!